(Foto: Tayrane Corrêa)
Os integrantes da Liga Sul-Minas-Rio se reuniram na sede social do Cruzeiro, em Belo Horizonte. O assunto principal da reunião foi a relação com a CBF, que ficou estremecida após a mudança de posição ocorrida na segunda-feira, quando a entidade exigiu a aprovação da Liga em assembleia para aceitar o pedido de filiação. É necessária maioria simples entre as 27 federações para a aprovação, ou seja, 14 votos. Ao fim da reunião, o diretor-executivo da Liga, Alexandre Kalil, deu o resultado: com tabela aprovada, a Liga vai sair do papel, independentemente da posição da CBF.
– Vamos divulgar a tabela na segunda-feira. A Liga está na rua e será feita. Agora é matar e vender a competição. Teremos seis datas, exatamente as que a CBF me deu. Curiosamente, foram eles que deram as datas (de 28 de janeiro a 30 de março), e achamos por bem não mudar. Não vamos perder a razão. Estamos enviando um documento para a assembleia, um comunicado para a CBF de que a nossa assembleia é ilegal. O STJD vai julgar nossos casos em uma sala especial. Precisamos de agilidade por causa do tamanho da competição. Quanto à arbitragem, temos três federações e vamos conversar com a Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol). A lei esportiva desse país permite que os árbitros apitem na Liga.
E o diretor-executivo voltou a criticar quem é contra a competição, lembrando dos ataques que atingiram até o seu filho João Luis Kalil, que tem cargo não remunerado na Liga, por ter ido à CBF.
– O que aconteceu comigo foi tão desagradável que não quero mais falar a respeito. Isso é o desespero pela agilidade com que foi feita a Liga. É muito importante pararmos com essa beligerância. Não quero expor a minha família, e ela foi exposta. O nível de agressão que esse pessoal é capaz me assustou. Brigar nós brigamos, mas guerra é cruel. E o que fizeram foi guerrilha – desabafou o dirigente, antes de brincar com a sua ida à sede do arquirrival Cruzeiro. – Vendi meu conhecimento e minha experiência. Meu coração ainda não. Kalil, que chamou atenção ao chegar em um carro de luxo preto, com o teto branco, e não baixou o tom na reunião. Quando teve a palavra, logo anunciou.
– Estamos libertados. Temos apoio do Governo Federal, do Ministério do Esporte e do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – disse Kalil aos demais dirigentes, sinalizando que não será necessário se curvar às vontades da CBF depois de ter se encontrado, na quinta-feira, em Brasília, com o ministro do Esporte, George Hilton.
O presidente do Fluminense, Peter Siemsen, chegou a sugerir que o grupo emitisse uma nota oficial à imprensa e pedisse à CBF a convocação de uma nova assembleia, anulando a da próxima terça-feira.
– Não podemos ficar omissos em relação à assembleia.
O mandatário tricolor foi prontamente rebatido por Kalil.
– Será 26 a 1.
(Foto: Fernando Martins)
A maioria dos cartolas chegou na manhã desta sexta-feira e seguiu para conhecer a sede administrativa da Raposa, antes da fartura de carne, massa e salada no almoço oferecido por Gilvan Tavares, presidente do Cruzeiro e da Liga, na sede social. Os últimos a chegar foram os atleticanos Kalil e Daniel Nepomuceno, presidente do Atlético/MG. Ambos entraram em "território inimigo" por volta das 13h45, já com o almoço encerrado. Depois da reunião, Gilvan explicou a formalização do encontro junto à CBF.
– A tendência é que as federações decidam que a Liga deve existir, até porque não há impedimento legal. Vamos enviar apenas o ofício porque hoje a lei do Profut, que foi uma luta muito grande dos clubes e da própria CBF, inclui um artigo que diz que os clubes têm que fazer parte das assembleias gerais. Neste caso, estamos fazendo uma defesa geral dos direitos de todos os clubes.
O presidente da Federação Catarinense, Delfim Peixoto, deixou claro que a Liga tem a intenção de existir com ou sem o apoio da CBF.
- A CBF é a entidade maior do futebol brasileiro, mas pela legislação atual, a Liga independe da CBF apoiar ou não. Eu espero que apoiem. Eu vou à reunião terça-feira e vou estar lá lutando para que apoiem. Não só como presidente (da Federação Catarinense), porque estou licenciado e vai estar lá o meu vice defendendo essa tese, mas como vice-presidente (da CBF) eu vou debater terça-feira pra que realmente apoiem. Pra não ficar dúvida nenhuma
Nos bastidores, alguns dirigentes mostraram receio em relação à postura de Kalil na reunião na CBF, considerando drástica demais por conta de uma medida que não deve barrar a realização da Liga. Mas o diretor-executivo afirmou durante a semana que o resultado da assembleia "não interessa". Com apoio do governo, a realização da competição de forma independente já não é vista com muitas restrições. A bronca de Kalil com a CBF foi a exigência da aprovação, visto que a Copa Nordeste não teve de passar por esse procedimento. A justificativa da CBF é de que, no caso da Copa Nordeste, havia consenso entre clubes e federações. No encontro que gerou o racha, na segunda-feira, Kalil já dava a aprovação do pedido de filiação como certo, esperando discutir somente detalhes jurídicos e ajustes na tabela.
(Foto: Fernando Martins)
Durante a reunião desta sexta-feira, os representantes dos clubes da Liga Sul-Minas-Rio discutiram o papel de Kalil na Liga, e o diretor-executivo saiu com apoio. Presidente do América/MG, Alencar Magalhães da Silveira Júnior lembrou do momento decisivo para dizer que o grupo precisa do dirigente, enquanto Delfim Peixoto, vice-presidente da CBF e presidente da Federação Catarinense de Futebol, pediu a Kalil que continue o trabalho. Segundo ele, a assembleia marcada pela CBF trará boas notícias à Liga. Segundo o GloboEsporte.com apurou, os participantes da Copa do Nordeste devem votar a favor da Sul-Minas-Rio.
Antes mesmo da reunião, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, tratou de amenizar o tom de racha que chegou a ser ventilado durante a semana. Admitiu que enxerga um certo exagero em algumas posições de Kalil, mas longe de ser suficiente para querer que o dirigente deixe o cargo de liderança na Liga. Durante a reunião na sede do Cruzeiro, pediu objetividade nas discussões, sem se opor a Kalil, e que seja divulgado assim que possível o calendário de competição.
A mudança de posição da CBF foi causada por um ofício enviado pelo presidente da Federação de Futebol do Rio (Ferj), Rubens Lopes, para Marco Polo del Nero. O documento de cinco páginas sustentava que a Liga é ilegal e só poderia ser oficializada com aprovação de uma assembleia com as federações. E Del Nero resolveu acatar o pedido, o que deixou Kalil irritado. A guerra nos bastidores se tornou intensa durante a semana. Farpas de lado a lado, rumores de racha nos bastidores sendo ventilados no anonimato e desmentidos nos gravadores.
Fonte: GloboEsporte.com